MENU
Um pedaço de liberdade
19/12/2016
Willian Starke: Orgulho estampado nos lábios

Willian Starke: Orgulho estampado nos lábios

Dentro da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG), os apenados encontraram um pedaço de liberdade. Um lugar, ‘construído’ por eles mesmos, que os fazem se sentir fora do ambiente prisional. É assim que os restauradores do Hospital de Livros do Pegaí Leitura Grátis definem o seu novo espaço de trabalho. “O Hospital de Livros significa a liberdade dentro da Penitenciária”, avalia o restaurador Willian Starke, o apenado que virou o porta voz dos restauradores.

Carinho pelo ambiente diferenciado e pelos livros que estão ganhando vida nova pelas mãos dos apenados, que passaram a ‘doutores’ dos livros. “Do sonho de uma pessoa estamos realizando os nossos”, disse Starke, agradecendo o idealizador do Pegaí, Idomar Augusto Cerutti, por compartilhar com eles o seu sonho de aproximar livros sem leitores de leitores sem livros, e agora, dar nova oportunidade a livros e pessoas.

Willian ainda tem um tempinho de pena para cumprir na PEPG, mas os seus sonhos fora do ambiente prisional incluem a sua arte, que ele está compartilhando com os leitores do Pegaí. O apenado refaz as capas dos livros que estavam sem. A cada livro, uma pesquisa sobre os desenhos que irão ilustrá-lo. “Isso aqui é uma joia para mim”, definiu a sua atuação no Hospital de Livros.

Além do prazer de estar ocupando sua cabeça com coisas boas, Starke destaca que o trabalho desenvolvido por ele e seus colegas restauradores ajuda a mudar a imagem dos apenados perante a sociedade, já que estão sendo úteis e colaborando para levar a cultura para mais pessoas.

Em sua família, Starke já virou celebridade. “Eles correm nas estantes do Pegaí para ver se acham meus livros”, exulta, citando os livros que ele deixa sua assinatura após fazer suas ilustrações.

Estímulo literário

O agente Rogério exibe seus 'achados' no Hospital

O agente Rogério exibe seus ‘achados’ no Hospital para os voluntários Pegaí, Gustavo Biral, Luciane Rosas, Fátima Eyherabid e Camila Kluppel

E não são somente os apenados que estão ‘curtindo’ o novo canteiro de trabalho da PEPG.  O agente penitenciário Rogério Bueno coordena as atividades dos restauradores no Hospital de Livros, e está curtindo o novo ambiente.

O hábito da leitura ele sempre teve, mas está o aperfeiçoando no ‘cantinho da liberdade’. “Tem vezes que estou lendo três, quatro livros ao mesmo tempo”, conta, mostrando as obras que ele garimpou no hospital e estão na fila da leitura.

Todo este conhecimento que está adquirindo, ele faz questão de compartilhar com os apenados. Em um quadro negro no Hospital de Livros ele escreve frases ‘garimpadas’ nas obras de seu interesse e que acabam servindo de inspiração para os restauradores.

“O que a literatura faz é o mesmo que acender um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor”.  Esta foi a última que Rogério escreveu. Ele tirou do livro “A bibliotecária de Auschwitz”, de Antonio Iturbe. Mas ele já tem uma lista delas em seu caderno. Uma delas, inclusive, de sua autoria.

O Hospital de Livros do Pegaí na PEPG é mantido pelas empresas Virtual Software para Seguros, Gráfica IPrint e Gráfica Rápida M2.