14/08/2017
Na última sexta-feira, dia 11 de agosto, na Livraria Curitiba do Shopping Palladium, o Instituto Pegaí Leitura Grátis recebeu diversos convidados para o lançamento da sua primeira obra, um cordel contando os quatro anos de história do Instituto.
O cordel do Pegaí surgiu de um trabalho totalmente artesanal, com praticamente tudo produzido com o esforço dos restauradores do Hospital de Livros do Instituto Pegaí na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG), que conta com o apoio do Departamento Penitenciário do Paraná.
O Hospital de Livros começou a funcionar em junho de 2016, porém o Pegaí já estava presente dentro da Penitenciária desde 2015. O Pegaí Leitura Grátis iniciou com o fornecimento de livros para o projeto de incentivo à leitura, de “Remição pela Leitura”. A remição consiste, de maneira geral, em diminuir em quatro dias a pena por cada livro lido e posterior apresentação de resenha, sendo que os apenados podem fazer uso desse benefício apenas com um livro ao mês. Entretanto eles foram tomando gosto pela leitura, e, hoje, acabam lendo mais de uma obra por mês, mesmo que não os ajude no abatimento da pena.
Depois de um ano de parceria, o Instituto Pegaí enxergou uma oportunidade, tirar os apenados da ociosidade e dar a eles uma chance de trabalho. Inicialmente, o voluntário Américo Nunes capacitou dez apenados para ajudar no hospital de livros. O Instituto, além de capacitar, forneceu os equipamentos e materiais necessários para a restauração, enquanto a PEPG forneceu o espaço, agentes para controle e a mão de obra. Em pouco mais de um ano, mais de dois mil livros foram recuperados e os detentos puderam aprender um novo ofício.
Os cordéis, contando a história do Pegaí Leitura Grátis, contém doze páginas e mais de mil foram impressos. Fora o texto e os clichês, – placas gravadas fotomecanicamente em relevo destinada à impressão de imagens e textos em prensa tipográfica -, tudo foi feito dentro da PEPG: desenhos, impressão e encadernação.
O texto foi criado pelo o autor pernambucano, Josué Limeira, que já adaptou o Pequeno Príncipe para o cordel. Após a criação do texto do cordel, este foi entregue para o restaurador William Starke, para que ele pensasse nos desenhos para ilustrar o livro. Starke recomeçou na arte do desenho refazendo as capas dos livros, que estavam sem, e que chegavam para restauro até o Hospital de Livros. Por causa da sua habilidade ele foi escolhido para ilustrar a publicação do Pegaí.
William ainda não conhece o Instituto Pegaí além do hospital de livros, mas isso não o impediu de desenhar a estante Freeda. Em uma das ilustrações que ele fez para o livro, quando uma pessoa entrega um livro do Pegaí para outras, ele se imaginou entregando o cordel para a sua família.
Durante o evento, o agente penitenciário Rogério Bueno, falou da parceria do Pegaí com a PEPG, “além de promover o trabalho para tirar a ociosidade dos presos, eles acabaram tendo mais contato com a leitura, se apegaram aos livros”. Bueno explicou que hoje os detentos, não só consertam livros para o Instituto, mas fazem também esse trabalho para outras instituições como escolas, e penitenciárias do Estado.
O vice-diretor da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa, Mauricio Ferracini, falou da missão do hospital de livros, “O Hospital de Livros é uma oportunidade para os presos. Primeiro transformou um ambiente, que servia como acervo patrimonial, depois iniciou com a recuperação de livros, e agora também tem recuperado pessoas”
O cordel contando a história do Pegaí Leitura Grátis não é uma obra para ser comercializada, ela estará disponível nas estantes do Instituto em Ponta Grossa, Ipiranga e Realeza.
O Instituto Pegaí Leitura Grátis está ajudando a mudar a história de alguns detentos, assim como prevê a missão do Hospital de Livros: “Dar nova oportunidade para livros e pessoas”. Para o coordenador do Instituto, Idomar Cerutti uma das questões mais marcantes nesse um ano de história do hospital foi a mudança na expressão facial dos detentos: “no começo havia desconfiança dos apenados, os olhos sempre baixos. Depois vieram os sorrisos e os olhos brilhando”. Hoje além de um hospital de livros o local já pode ser considerado uma fábrica de livros.
Veja vídeo do lançamento do Cordel aqui.