21/03/2016
Liberdade. Para cada uma das pessoas que está lendo este texto essa palavra pode ter um significado. Liberdade de ir e vir, liberdade de se expressar, liberdade para fazer o que a imaginação permitir… Podem ser muitos os significados. Para grande porcentagem da população que está encarcerada no Brasil esta palavra pode ir além. Pode significar esperança.
Liberdade? Eles já tiveram. Talvez por escolhas erradas, amizades incertas, ou por pura maldade – quem sabe? – eles perderam o direito de ir e vir, de fazer o que bem entendem na hora que querem, enfim, são muitas as privações. Bem, nesse ‘mundo’ entre quatro pequenas paredes, são poucas as possibilidades. Mas estas pessoas podem sim manter uma relação aberta com o mundo. Podem conhecer novas culturas, outras histórias, enfim sonhos que nunca imaginaram para si mesmos. A liberdade de sonhar é possível.
O universo da leitura abre esta janela para a população carcerária. Verificando a importância de inserir este hábito nas unidades prisionais, surgiu o projeto de remissão de pena a cada livro lido. A cada resenha entregue, um dia de pena é retirado. Pode ser até este o principal motivo dos apenados lerem, conforme alguns confessaram. Mas o importante é que este hábito está sendo frequente. Pode ser até que uma história de superação lhe dê um outro significado para sua pós-detenção.
Pois foi bem isso que Carlos (nome fictício) garantiu durante a visita do Pegaí Leitura Grátis à Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG). Em uma de suas várias leituras, o apenado que está cumprindo regime semi-aberto e é um dos alunos do Ceebja, se deparou com uma história, que conforme Carlos “poderia ser a dele”. “Era a história de um rapaz, que tinha uma mãe alcoólatra que o abandonou. Teve várias influências para se envolver com o crime, mas resistiu”, contou, destacando que a fé em Deus foi essencial na vida do personagem. “Agora tudo tem um sentido na minha vida. Meu modo de ver o mundo mudou, e a leitura me ajudou a enxergar este novo modo”, garantiu.
Os demais estudantes da PEPG – um pouco tímidos com a presença de ‘estranhos’ – não foram tão fundo em suas contações como Carlos. Mas contaram suas preferências pelos romances que chegam à Penitenciária. “Gosto do Nicholas Sparks e do Dan Brown”, contou outro apenado. Quando Paulo (nome fictício) chegou à PEPG não era muito fã de livros. Mas durante os dois anos que está aprisionado já leu cerca de 50 livros. “Não tem muito o que fazer né!”, explica.
Pela “falta de outras atividades possíveis”, a leitura é vista com muito bons olhos no sistema prisional. “É um dos prazeres que eles têm”, comenta a professora do Ceebja e coordenadora do projeto de remissão pela leitura, Silmara Indezeichak, completando que eles entram como apenados e saem como leitores da PEPG. “É uma ocupação boa”, avalia.
O Pegaí Leitura Grátis conta com uma estante dentro da PEPG desde outubro de 2015. Primeiramente os livros chegaram aos servidores e já estão circulando no regime fechado da Penitenciária. “O próximo passo é disponibiliza-los para os estudantes do semi-aberto”, adianta o professor, Marcos Otávio. Conforme o coordenador do Pegaí, Idomar Augusto Cerutti, a entrada da proposta na PEPG também é vista com bons olhos pelos autores que frequentemente enviam seus livros para os leitores do Pegaí. “Temos recebido diversas doações para serem encaminhadas ao sistema prisional”, aponta.