MENU
Hospital de Livros revela ‘talentos’
24/08/2016
De tatuador a ilustrador de livros. William Starke é um dos apenados que trabalha no Hospital de Livros da PEPG

De tatuador a ilustrador de livros. William Starke é um dos apenados que trabalha no Hospital de Livros da PEPG

O Hospital de Livros do Instituto Pegaí Leitura Grátis na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG) segue a todo vapor. Inaugurado há pouco mais de dois meses, o Hospital já recuperou mais de 300 livros do Pegaí. Alguns deles, que só contavam com seu miolo, estão ganhando até capas novas, e com arte local da PEPG. O apenado Willian Starke, que passou pelo treinamento com o restaurador e voluntário do Pegaí Américo Nunes, está mostrando seus dotes nas obras restauradas.

Além de realizar todo o trabalho de recuperação, Starke está desenhando capas novas para os livros. E não é qualquer desenho não. Ele tem que ‘estudar’ os livros antes de ‘inventar’ a arte para a capa. E lembrem-se que na Penitenciária o apenado não conta com recursos da tecnologia para se inspirar.

Conforme o ilustrador, a referência do título muitas vezes não funciona para a produção dos desenhos. “Às vezes o título não tem nada a ver com o conteúdo. Pode ter um significado diferente, que vai depender conforme a interpretação do leitor”, conta o restaurador e artista do Hospital de Livros. Nestes casos o jeito é ler mesmo. “Acabo me envolvendo com as histórias”, conta, aos risos, Starke.

A paixão pelos desenhos é anterior a pena do hoje restaurador. Ele já foi tatuador. A antiga profissão está sendo muito bem aproveitada na Penitenciária. Mas ao invés de peles, ele decora os livros. Os materiais utilizados também têm as suas particularidades, mas o restaurador está aprendendo na prática, e com o que é disponibilizado dentro do Hospital.

Hoje o Hospital de Livros depende de doações para seu funcionamento. Papéis, colas, canetas. Tudo precisa de investimento e de investidores. Na última semana, o ilustrador recebeu novos materiais para incrementar o seu trabalho. “Com o papel contact vou conseguir usar os lápis de cor para deixar os desenhos mais bonitos, e sem borrar”, exulta Starke, exibindo orgulhoso suas novas capas.

Para cada tipo de desenho, o apenado mostra qual caneta dá o melhor efeito. Com ou sem sombra, para desenhar as letras ou para preenchê-las. A preocupação vai até com a aparência dos livros. Aqueles que têm o aspecto mais antigo não ganham capas brancas não. “Neste vou usar um papel marrom para combinar”, destaca, apontando um livro antigo já com as páginas amareladas.CIA_9006 CIA_9007

Capas desenhadas pelo ilustrador

Capa desenhada pelo ilustrador

Missão

A missão do Hospital está sendo cumprida: “dar nova oportunidade para livros e pessoas”. Os livros estão chegando nas mãos de novas pessoas. Mas a oportunidade não é somente para as pessoas que estão lendo os livros que já não teriam utilidade antes do restauro. O Hospital também está dando nova oportunidade para as pessoas que estão trabalhando dentro dele. Os apenados estão se redescobrindo, lembrando-se de suas aptidões, e sendo valorizados pelos seus trabalhos.

Além de perceber esta valorização nos olhos dos restauradores, eles estão divulgando seu valor para fora das grades. Cada livro restaurado leva uma etiqueta com o nome de seu restaurador (vídeo). “Imagina a minha filha pegando um livro o qual eu restaurei”, fala, com orgulho Starke.

Quer ajudar o instituto Pegaí Leitura grátis a manter o Hospital de Livros? Entre em contato através do email contato@pegai.info.